MARQUEZ  ILUSTRA  A MÁ-SORTE  PORTUGUESA

Graças a uma entrevista a juiz, fiquei a saber o seguinte: uma vida ou um sistema judicial resumem-se a 2 dos títulos de livros de Gabriel Garcia Marquez: "Um General em seu Labirinto" e "O Náufrago". 

Ou seja vencemos no caos ou desistimos nas agruras, mesmo já com um mão numa qualquer praia. 

A entrevista versava sobre um computador atrapalhado no sorteio de um processo sobre um ex primeiro-ministro preso com transmissão directa nas televisões.  

Pelo meio veio a pergunta sobre se o tal juiz se identificava com  "Um General em seu Labirinto", mas o juiz preferiu "O Naúfrago". 

Todas as vidas têm imprevistos e o também tropeçou faltando

.

ao importante sorteio da sua vida. 

Aliás a única falta em décadas de a única falta em décadas de e concluiu assim : "se tinha de faltar naquele dia, foi naquele dia!". lá aconteceu o que ja se previa. O processo foi distribuido a uma espécie de rival. 

O juiz criara como sempre um mega-processo que já dura para além dos 7 (sete) anos de investigação arrastada.

E qual será o desfecho? Um outro livro de Gabriel Garcia Marquez com um título muito premonitório: "História de uma Morte Anunciada". 

Mas, creio que numa versão portuguesa, não será Nassar a morrer. Mas sim a Liberdade devolvida aos Portugueses há 50 anos.                       José Ramos e Ramos


MIGUEL TORGA: "ELA NASCEU PÓSTUMA"

Natália Correia foi desses seres que chegam adiantados no tempo, vindos do futuro para no-lo antecipar. Miguel Torga dizia que ela nasceu póstuma. A excepcionalidade de Natália Correia não lhe permitiu, por isso, caber nas normas, nas ideologias, nas culturas, nas religiões, nos sentimentos que a envolviam - e que logo ela extravasou, inovou.

Daí as incompreensões, os desajustamentos sofridos toda a vida. Incompreensões e desajustamentos motivados por um certo anedotário gerado à sua volta - de que ela foi co-responsável por poses, exotismos que a cracterizavam. Reconhecendo-o, afirmará "falar-se muito da minha personalidade, transformando-a num espectáculo para abafar a minha obra" FD

ODE À PAZ EM TEMPO DE GUERRAS

Natália Correia 13 de Set 1923—16 de Mar 1993

Ode à paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,

Pelas aves que voam no olhar de uma criança, Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza, 


Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança, Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia, Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos, 

Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria, Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes, 

Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos, 

Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes, 

Pelos aromas maduros de suaves outonos, 

Pela futura manhã dos grandes transparentes, 

Pelas entranhas maternas e fecundas da terra, 

Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra, 

Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna, Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz. 

Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira, Com o teu esconjuro da bomba e do algoz, Abre as portas da História, deixa passar a Vida!                      

Natália Correia


Na morte de um alfarrabista amadoríssimo (daqueles de amado)  e figura
de esquina. 

Que como ele sempre dizia: 'não tenho arcaboiço para vir a ser de bairro'.  

Os livros guardam os guardadores de livros. Que em não

acreditando nisso eu passava a vida vestido de luto.

Bizantina resiste aos especuladores de Lisboa


À distância de um telefonema, confirmámos a vitória dos alfarrabistas da Bizantina sobre  especuladores imobiliários, matantes de Lisboa. Neste caso (imagine-se!) algum burocrata da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP) a pedir um aumento astronómico de renda de 40 por cento sobre 1500 euros. 

Já passaram 3 anos da anunciada morte. Os especuladores são pacientes. Mas a Bizantina está de pé.Na altura o jornal Público noticiava a vitória: "a Bizantina das Portas de Santo Antão já não vai fechar (porque) como a SHIP já era uma sociedade sem fins lucrativos e, como tal, não (pode) cobrar rendas, ficou acordado pelas partes que a Bizantina  faria um "donativo voluntário trimestral à sociedade". A livraria alfarrabista ficava assim a pagar  4500 euros (1500 por mês) pelo espaço de cerca de 13 metros quadrados e por mais um armazém da mesma dimensão". 

Uma vitória! mas pesada. Estes alfarrabistas são uns heróis. À cabeça está Carlos Bobone.



Imprensa em queda, Telemóveis em alta

Foram comprados mais de 4 telemóveis por minuto no ano passado (2024) revelou o vice-presidente da divisão de telemóveis da IDC Europa, Francisco Jerónimo.

Mais de 46 em cada 100 portugueses têm 2 telemóveis, segundo sondagem da Multidados: são mais 15 milhões de telemóveis. 

Ou seja quase metade dos portugueses já têm dois telemóveis para consultar mensagens, jogar (horas a fio) e ler (pouco) noticias ou ouvir comentários. Quase todos os telemóveis têm écrans grandes.

Na Imprensa, por dia, o Correio da Manhã vende 39 mil exemplares E Sse o Jornal de Noticias tem uma quota de 23% de mercado, com 14 859 exemplares, o Público, com uma quota de 7% vende 9 mil exemplares.

Com o desaparecimento da Imprensa morre a Democracia. 

(No telemóvel ou tabet, para outras páginas, prima os 3 traços canto superior direito)

Coragem galvanizadora

Aceradamente crítica com os que manipulavam a conquista do poder – como sucedeu nos abrasados meses de 1975 – Natália Correia seria, então, de uma coragem galvanizadora, recusando (com Miguel Torga, David Mourão-Ferreira, António José Saraiva e poucos mais) aceitar ditaduras de outras paletas. Nunca ninguém me controlou", exclamava, "nem antes nem depois do 25 de Abril, que totalitaristas existem em todos os regimes, e opositores a eles também. 

Mas não sou nenhuma dessas vítimas profissionais do fascismo e da PIDE, repugna-me, aliás, que se cobre pelas opções feitas, fazem-se, assumem-se, pronto! 

A longa noite do fascismo não foi para mim nenhuma longa noite porque não deixei que o fosse, pessoalmente até me diverti bastantenela... as pessoas que pertencem ao mundo da cultura resistem a deixar-se manipular, por isso é que ela, cultura, é tão combatida, tão iludida, à direita e à esquerda, por todos os poderes".    Fernando Dacosta

LIVROS EM VEZ DE ÉCRANS, NO PARLAMENTO

Os dias da Assembleia da República seriam  diferentes, se José Lello continuasse a distribuir livros aos deputados.

Todos os anos, pelo Natal, José Lello oferecia uma cabazada de livros, com títulos em função da actividade de cada deputado. Para além da graça, praticava-se o foco, coisa importante para o sucesso das vidas.

Um livro obriga a mente a focar-se num único assunto e desabitua-se de confusões e dichotes

Com um livro à frente, reflectimos no que vamos dizer e nas consequências.

Claro, as convulsões políticas continuarão, por serem inerentes à vida. Os debates seriam assim gentis e produtivos, por serem estribados por livros.

José Lello era generoso, trabalhador e alegre. Faleceu a 14 de Outubro de 2016. Deixou de haver livros oferecidos. Agora só há ecrãs de computador nas bancadas do Parlamento, como num escritório.   JB

A pianista Maria João Pires e o barítono Matthias Goerne, dois extraordinários intérpretes da obra de Franz Schubert, interpretam Viagem de Inverno, um dos mais fascinantes ciclos de canções escritos pelo compositor austríaco. 

Dedicado à figura romântica do viajante, que atravessa um inverno habitado pela dúvida e pelas memórias, este ciclo é um exemplo sublime da elegância dos Lieder de Schubert. 

Depois das Schubertiades que recriou na temporada passada no Grande Auditório, Maria João Pires encontra agora em Goerne o cúmplice ideal para uma nova jornada schubertiana. (do site F. GulbenKian)

Maria João Pires toca na Torre de Marfim


Era de esperar. O anunciado concerto de Maria de João Pires esgotou-se rapidamente. Só não se compreende os preços elevadíssimos, de 28 a 70 euros.

A provável primeira resposta será: o concerto é para amantes e entendidos. E nós acrescentamos que a Fundação foi obra de um rico petroleiro, que poisou em Portugal por misteriosa causa.

A segunda resposta será talvez: estando o concerto esgotado, é porque não é caro. Pois! 28 euros para uma família?

Ao menos transmitam o concerto pelo YouTube. E deixam de se queixar que a malta está sempre de olhos nas mensagens e jogos do telemóvel.

Ou querem continuar a viver numa Torre de Marfim?   JB


.08 abr 2025, 20:00  Esgotado

Grande Auditório Fundação Calouste Gulbenkian (do site F. Gulbenkian)

(No telemóvel ou tabet, para outras páginas, prima os 3 traços canto superior direito)

O mosaico retrata uma menina da Síria que perdeu toda a família na guerra, onde se  envolveram  durante largos anos EUA, Grâ-Bretanha, França e Rússia num pro-e-contra o ditador sírio. E a menina? E os outros meninos?    JRR

Natália Correia

Comecei pelos versos dela. Depois por ela ter feito do barroco uma antologia contemporânea sob a chancela da espiral do Escada na Moraes.

Depois tonitruante, voz de carne. Até na 'Mátria' televisiva que tinha da eloquência e em igual dose todos os trejeitos e uma boa maquia das qualidades. Faz hoje 100 anos que nasceu, a miúda de Fajã de Baixo e boquilha à ilharga. 

Fugidia afogueada das suas próprias certezas, nem deus ou diabo lhe hão-de voltar a pôr a vista em cima. Abençoada.

( texto de 13 de Setembro p.p. de José Alves Mendes )